segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Encher a mochila

"Nas nuvens" começa com um genérico fabuloso. Os genéricos são importantes para mim. Comecei a gostar do filme por aí, pelos planos sucessivos onde víamos bocados de terra norte-americana do ar.
A história daquele homem desprendido (George Clooney igual a si próprio) que viaja a soldo para despedir e consolar pessoas também me surpreendeu. Este homem também ganhava a vida como orador motivacional, vendendo maquinalmente às plateias aquela história de esvaziar a mochila onde levamos dentro a vida. É preciso ser-se desprendido e vestir a pele de um tubarão, dizia.
Mas entra-lhe pela vida adentro um pequeno drama familiar (o casamento da irmã, que mal conhece), uma nova mulher (igual a ele, que ele pensa conhecer) e uma jovenzinha calculista e insegura que põe em risco o seu modo peculiar de trabalhar e o seu brio profissional. Aprende, afinal, que vale a pena carregar alguma coisa às costas (o amor, a família) e encher a mochila, mesmo que as correias apertem até doer. Mas aqui não há finais felizes. E ficamos com a sensação de que a mochila de Ryan Bingham ainda vai demorar a encher-se.