sexta-feira, 22 de abril de 2011

O tailandês tranquilo

Ruídos da selva, vento, calor, abelhas e tamarindos; um boi luzidio e musculado que corre por entre a erva, macacos-homem de olhos vermelhos, espíritos e fantasmas, uma princesa amargurada e um peixe-gato assanhado atravessam o filme tranquilo do tailandês Apichatpong Weerasethakul, “O tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores”.
O tio Boonmee é um homem doente que leva o sobrinho e a cunhada para a sua quinta de apicultura, sabendo que a sua vida já está por um fio. O tio Boonmee acredita que foi o “karma” que o tramou: matou muitos comunistas e insectos e, por isso, adoeceu.

Um dia, recebe a visita do espírito da mulher, morta há 19 anos, e do filho desaparecido, que voltou sob a forma de macaco (uma cena bela e intensa). O tio Boonmee sabe que irá morrer em breve e assim será, na gruta onde se lembra de ter nascido, numa vida anterior.
O filme cativa pela sua estranheza e dolência. Não se percebe tudo e por que havemos de perceber? Suspendemos a descrença e deixamo-nos levar pelos sons daquela Língua estranha, pelos seres míticos ou pelas formas sinistras da caverna onde entramos a dada altura.
É um daqueles filmes que agradam mais aos espíritos contemplativos. Ali não há grande acção ou actividade. Os diálogos são monocórdicos. Tudo o que existe são gestos lentos, sons e mistérios. Eu cá gostei.