segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Na estrada

“The Road”, de Cormac McCarthy, é um livro impressionante: o norte-americano escreve de forma enxuta, brutal e poética sobre um pai e um filho que rumam ao sul num mundo pós-apocalíptico e bárbaro, de paisagens calcinadas e aparentemente sem futuro. No meio de “homens maus”, eles são os “homens bons” que tentam manter o fogo da humanidade aceso. É uma história de amor, de devoção e de aprendizagem para a morte e para a vida, porque aquele pai sabe que não durará muito mais tempo. Um tema certamente caro ao escritor, ele que é um septuagenário com um filho pré-adolescente.
A adaptação de John Hillcoat é irrepreensível. Deixa espaço à imaginação, não tenta explicar nem mostrar tudo, é feito com uma grande sensibilidade e dureza. A fotografia é magnífica: imergimos num mundo desbotado de cinzas e de naturezas mortas, um mundo inimaginável e depressivo onde alguns se recusam a terem apenas de sobreviver. Mas há os irredutíveis. Viggo Mortensen faz uma poderosa interpretação no papel do pai que protege o seu filho de forma quase animal, esse filho que já nasceu num mundo sem passado e sem futuro. A sua luta é protegê-lo, acreditando que o rapaz pode ainda transportar a centelha que não o deixará resvalar para a barbárie. Ainda há esperança. O mundo não perderá a alma enquanto existirem homens bons.
O filme é uma adaptação fiel do livro de McCarthy. Talvez demasiado fiel, demasiado submissa e literal. O problema é que não traz nada de novo, não expande o livro, não o complementa. Não há dúvida de que preferiremos sempre o livro ao filme, ainda para mais tendo sido escrito por Cormac McCarthy.
Ora, o caso de Manoel de Oliveira é exemplar nesta história das adaptações de livros para o cinema. Fez inúmeros filmes partindo dos livros da Agustina Bessa-Luís e nunca teve pruridos em meter a sua colherada, em fazer trinta por uma linha, em ser livre, criando sempre um filme original (goste-se ou não) que não teve de fazer vénias à literatura. Isto sim é ambição e criatividade.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

domingo, 3 de janeiro de 2010

Brave New World

“Avatar” vale pelo novo mundo que nos faz ver, de plantas extraordinárias, árvores sagradas, animais fabulosos que lembram as criaturas angulosas de Dalí, montanhas flutuantes saídas de um quadro de Magritte, um mundo verde, azul e fosforescente onde embarcamos com deslumbramento.
O argumento é que é fraco: sucedem-se as fórmulas, os gestos convencionais e estereotipados e senti pontadas de déjà vu, como se se tivessem enxertado bocados das histórias do Rei Leão, da Pocahontas ou do Shaka Zulu.
Coloquei com gosto os óculos 3D, gozei com os olhos da infância este novo mundo de James Cameron, mas continuo a preferir, definitivamente, um cinema de carne e osso.