terça-feira, 16 de março de 2010

“We’re all mad here. I’m mad. You’re mad”


Xeque-mate. A Alice de Tim Burton surpreendeu-me. Gostei do mundo negro, violento e alucinado de “Underland”, muito longe de uma visão açucarada e mimosa à maneira da Disney, que eu temia. Esta nova leitura da Alice de Lewis Carroll é uma lufada de ar fresco. Tem ritmo, tem graça e a história continua de forma inteligente, respeitando o que existe de “muchness” nas personagens de Carroll: a Alice aos 19 anos (talvez já um pouco mais inteligente) mantém a impertinência inocente e o domínio das criaturas que povoam o País das Maravilhas e surge com uma nova energia guerreira que me agradou. Mas a personagem mais enigmática e bem conseguida daquele lote é o chanfrado chapeleiro com exoftalmia, um poço de ambiguidade, meigo e violento, que tem às vezes uma voz profunda e trágica, arrepiante. O impacto visual da Rainha de Copas é tremendo, a Rainha Branca é desconcertante, o guarda-roupa é arrojado (sobretudo o de Alice), o ambiente é claustrofóbico. Fiquei rendida.