sábado, 24 de março de 2012

Mudos de espanto

"The Artist" fascinou-me mais pela surpreendente e imaginativa realização do que pelo enredo, embora este tenha todos os ingredientes para um consumo agradável: a história de gratidão/amor ambientada em Hollywood(land) na passagem do triunfal cinema mudo para os "talkies". O tema já tinha sido brilhantemente gozado no musical "Singing in the rain", por isso me soube um pouco a requentado.
O que mais me agradou foi a irreverência e o desplante deste filme: é uma sonora pedrada no charco, isto de se fazer um filme mudo em pleno século XXI. O que é mágico é que também sentimos o fascínio que vemos nas caras dos espectadores nas magistrais primeiras cenas.
Que graça, a expressão dos rostos que atravessam o filme, sobretudo, o sorriso esplendoroso do artista "mudo" George Valentin, as acrobacias do canito ou o final feliz e dançante.
Apesar da belíssima banda sonora, que alivia o desconforto de um silêncio total e prolongado à D.W. Griffith, é curioso como fui sentindo a vontade de ouvir outros sons e o realizador, engenhosamente, lá os foi introduzindo de forma parcimoniosa.
É pelos detalhes simples, graciosos e inteligentes que "O Artista" se destaca. Veja-se o "BANG" ou aquele suave "Wizpleasure".

quinta-feira, 8 de março de 2012

Kiss Me Deadly


Que saudades que eu tinha de ver um destes, enterrada naquele sofá chiante. O filme negro de 1955 de Robert Aldrich. O genérico é desconcertante, visto de baixo para cima, com o arfar de Christina em fundo. Antes, víamos os pés dela a correr no asfalto. Tap, tap, tap.
Gosto daqueles penteados, dos homens de caras duras e dos seus  fatos, da maneira como pegam nos cigarros, dos clichés, das mulheres de robe e das mulheres aperaltadas, do discar dos telefones, dos beijos, da música.

The night is mighty chilly
And conversation seems pretty silly
I feel so mean and rot
I’d rather have the blues than what I’ve got...