terça-feira, 10 de julho de 2012

O leopardo amansado


"Il Gattopardo" (1963), de Luchino Visconti, é um filme que me hipnotiza. Não é só pelo enredo e pelas personagens soberbas, sobretudo aquele Don Fabrizio de estalo, cáustico, rude, lúcido e gentil, um leopardo amansado, que vê o seu mundo brilhante e poeirento em desintegração, mas que se adapta, ainda que todo esse assunto seja um pouco "ignóbil". Lá terá que se vergar às insípidas hienas que galgam desajeitadamente os degraus da escada social (pobre Don Calogero) e esperar com alguma dignidade pela morte.
É também pelos detalhes do filme, pelo cuidado amoroso com que Visconti pinta cada cena (tudo me parece um quadro maravilhoso de Delacroix) ou o primor com que veste cada personagem. São aquelas cortinas ao vento nas cenas iniciais, o soldado morto no jardim, a batalha dos camisas vermelhas, a toalha branca do piquenique dos nobres, os enormes pastéis do banquete, a poeira de Donnafugata.