terça-feira, 28 de abril de 2009

Rome, Rome will tear us apart again







Os flocos de neve. Foi isto que me deliciou no deslumbrante peplum "The Fall of the Roman Empire" (1964), de Anthony Mann. Depois foi aquela corrida de cavalos que furava a floresta e que opunha Lívio e Cómodo (um irreconhecível, de tão novo, Christopher Plummer).
Sophia Loren ia passando no ecrã, imperial. Fez uma boa performance como filha abnegada de um Marco Aurélio moribundo e mulher apaixonada : sempre que o par amoroso Lucila/Lívio surgia, apetecia cantar: "Rome, Rome will tear us apart again..."
E depois das cenas magistralmente filmadas nas geladas florestas bárbaras da última fronteira do Império Romano, fez-se luz quando nos vimos numa Roma de mármores, togas e estátuas gigantescas. Deslumbrante, o mergulho de Cómodo na piscina azulíssima do seu Sanum Per Aqua. Indescritível, a beleza do cenário do Forum e a visão de Cómodo, já imperador, sentado sob a luzidia loba romana (mas sem Rómulo e Remo agarrados às tetas).

E ao longo dos 153 minutos que durou este filme, o senhor que se sentou ao meu lado dormiu profundamente. Nem as cenas de batalha entre romanos e bárbaros, bem servidas de gritos e espadeiradas, o acordavam. Um sono de justo.





















sábado, 18 de abril de 2009

Indie Lisboa: 23 de Abril a 3 de Maio

Na agenda:

  • "Singularidades de uma rapariga loura", Manoel de Oliveira (28, Terça, 22h00, São Jorge)
  • "Winter Silence", Sonja Wyss (29,Quarta,21h15, Londres)
  • "Ricky", François Ozon (1, Sexta, 21h45, São Jorge)
  • "Johnny Cash at Folsom Prison", Bestor Cram (2, Sábado, 18h45, São Jorge)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Man(n) of the West







"Man of the West" (1958), de Anthony Mann, é um western inquietante, que abre brechas num género luminoso e maniqueísta. Este homem, Link Jones, encarnado num imponente Gary Cooper de rosto tisnado e cheio de sulcos, é um fora-da-lei reabilitado que volta ao seu passado sanguinário quando dá de caras com o antigo bando liderado pelo seu tio e mentor, o louco varrido Dock Tobin. Para se libertar, Link terá de correr com todos a tiro.
O filme está pejado de cenas deslumbrantes, de tão tensas. Como aquela em que há um homem a sofrer numa cama que é preciso matar caridosamente, como a um cavalo. Ninguém tem estômago para o fazer ( vemos em grande plano, à vez, os rostos suados e enojados de Trout e Ponch), a não ser o desavergonhado Coaley, mas que, recatadamente, fecha a cortina vermelha que separa o assassinato do olhar dos outros. Interessante.
Mas a cena mais inquietante do filme aconteceu quando Link Jones levou para o meio daquele bando de patifes a sua bela protegida Billie Ellis. Sabíamos o que aí vinha e ela também. Coaley põe-se aos gritos, a exigir que ela se dispa à frente de todos. Para a fazer despir mais depressa, pressiona uma faca na garganta de Link, que já não lhe era indiferente. E num acto de amor vemos Ellis, decidida e quase já sem medo, a descalçar os sapatos, a obedecer e a despir as meias pretas, a ver o sangue escorrer no pescoço de Link e a desapertar o vestido. Fica-se por aqui e basta para sairmos daquela cena com os nervos em franja.
Mas Link Jones vinga-nos mais tarde na sequência em que dá uma tareia a Coaley e o despe à frente dos outros, deixando-o a chorar de raiva, em ceroulas. Ficamos consolados.
A interpretação de Lee Cobb ("Dock Tobin") também impressiona, do princípio ao fim: quando aparece em cena, saído da penumbra de um quarto, quando dá o sermão ao seu bando frouxo, gritando "no guts! no guts!", quando vemos a devoção cega que tem por Link e quando se deixa morrer, displicentemente, às suas mãos.

Este "Homem do Oeste" ficou-me debaixo da pele.




segunda-feira, 13 de abril de 2009

O filme pascal








Gosto genuinamente de encontrar todos os anos na televisão pública os mesmos filmes em Technicolor que versam a temática geral “Jesus Cristo.” É reconfortante. É nostálgico. São filmes bons: exagerados, kitsch, garridos e, invariavelmente, com um Charlton Heston bronzeado.
Nunca vi o “Ben-Hur” inteiro (filme de 1959, de William Wyler), mas tenho-o visto, aqui e ali: a cena da telha que escorrega, a corrida de quadrigas e a sequência dos leprosos. Este ano, juntei mais umas peças: a relação, digamos, alegre, entre o romano Messala e o judeu Ben-Hur, o coup de foudre entre o senhor Ben-Hur e a sua escrava Ester (que quando a vi descer as escadas já sabia o que aí vinha), a prisão injusta de um inocente Ben-Hur depois da dita queda da telha, a relação alegre que azedou, a travessia do deserto e o gesto caridoso de Jesus, que deu de beber a quem tinha sede.
E depois veio a sequência nas galeras. Êxtase. Absorvi tudo aquilo: os homens de corpos bronzeados e reluzentes a remarem ao ritmo do tambor que acelerava sob as ordens maliciosas de um romano: ritmo de aceleração, ritmo de combate, ritmo de abalroamento e sofríamos com eles, com aqueles rostos retorcidos, uns a gritar de dor, outros a cair para o lado, e o Ben-Hur, com olhos duros de ódio, bronzeado e a suar, a aguentar aquele esforço crescente. E quando repousaram, nós repousámos.
Esta foi a grande cena da Páscoa de 2009, tirando, obviamente, a do sarrabulho, que essa é só para entendidos.