quinta-feira, 16 de abril de 2009

Man(n) of the West







"Man of the West" (1958), de Anthony Mann, é um western inquietante, que abre brechas num género luminoso e maniqueísta. Este homem, Link Jones, encarnado num imponente Gary Cooper de rosto tisnado e cheio de sulcos, é um fora-da-lei reabilitado que volta ao seu passado sanguinário quando dá de caras com o antigo bando liderado pelo seu tio e mentor, o louco varrido Dock Tobin. Para se libertar, Link terá de correr com todos a tiro.
O filme está pejado de cenas deslumbrantes, de tão tensas. Como aquela em que há um homem a sofrer numa cama que é preciso matar caridosamente, como a um cavalo. Ninguém tem estômago para o fazer ( vemos em grande plano, à vez, os rostos suados e enojados de Trout e Ponch), a não ser o desavergonhado Coaley, mas que, recatadamente, fecha a cortina vermelha que separa o assassinato do olhar dos outros. Interessante.
Mas a cena mais inquietante do filme aconteceu quando Link Jones levou para o meio daquele bando de patifes a sua bela protegida Billie Ellis. Sabíamos o que aí vinha e ela também. Coaley põe-se aos gritos, a exigir que ela se dispa à frente de todos. Para a fazer despir mais depressa, pressiona uma faca na garganta de Link, que já não lhe era indiferente. E num acto de amor vemos Ellis, decidida e quase já sem medo, a descalçar os sapatos, a obedecer e a despir as meias pretas, a ver o sangue escorrer no pescoço de Link e a desapertar o vestido. Fica-se por aqui e basta para sairmos daquela cena com os nervos em franja.
Mas Link Jones vinga-nos mais tarde na sequência em que dá uma tareia a Coaley e o despe à frente dos outros, deixando-o a chorar de raiva, em ceroulas. Ficamos consolados.
A interpretação de Lee Cobb ("Dock Tobin") também impressiona, do princípio ao fim: quando aparece em cena, saído da penumbra de um quarto, quando dá o sermão ao seu bando frouxo, gritando "no guts! no guts!", quando vemos a devoção cega que tem por Link e quando se deixa morrer, displicentemente, às suas mãos.

Este "Homem do Oeste" ficou-me debaixo da pele.




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