quarta-feira, 10 de junho de 2009

Deixa-me entrar na tua pele



A neve, o frio, a pré-adolescência e o sangue misturam-se primorosamente neste filme belo e delicado do sueco Tomas Alfredson, "Let the right one in" ("Deixa-me entrar"), uma iniciação ao amor e à dor que mete vampiros numa Suécia invernal dos anos 80, abafada em camisolas de lã. É um filme perturbante, não tanto pelas cenas macabras que não podiam faltar ao género, mas sobretudo pelas tensões que atravessam as crianças que pululam a história. Ali não há inocentes: estão todos manchados de sangue, de crueldades ou de vingança.
Oskar, o rapaz louro que me faz lembrar o principezinho de Saint-Exupéry a cuidar da sua rosa, maltratado pelos bullies da escola, e Eli, a vampira presa num corpo de menina, são imensamente expressivos. Eli é a mais inquietante, por ser uma criança sem idade, uma mulher madura presa num corpo pré-adolescente e que seduz inocentemente (?) um miúdo de 12 anos. E tinha uns grandes olhos verdes azulados, calmos e silenciosos. A grande sequência, para mim, é aquela espécie de pedido de amor e de compreensão que a vampira ensanguentada faz ao miúdo: "Põe-te na minha pele." Talvez que o amor comece por aí.
O filme está repleto de tensões sexuais, que são, aliás, apanágio de todas as histórias de vampiros que se prezem. Há ali relações dúbias, como a que liga a vampira ao seu suposto pai. Na novela que deu origem ao filme, do sueco John Ajvide Lindqvist, este "pai" era um pedófilo, mas no filme isso não é claro. Pode até ser amor e, no final, tememos que Oskar se transforme, também por amor, nesse angariador de sangue abnegado. Há também a homossexualidade do pai de Oskar, que nem ao filho escapa.
Gostei da beleza fria e silenciosa deste filme e gostei do sangue que salpicava meticulosamente o rosto branco de neve da vampira Eli.





















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