domingo, 21 de junho de 2009

Em câmara lenta

"Shotgun Stories", de Jeff Nichols, transporta-nos para um Arkansas soalheiro, onde a vida se arrasta monótona entre campos de algodão e viveiros de peixe. É uma história de irmãos. Son, Boy e Kid Hayes (nem nome de gente têm) foram abandonados pelo pai e cresceram negligenciados por uma mãe fria e rancorosa. Este pai endireitou a vida, deixou de beber e foi criar uma nova família. Este pai morreu. No dia do enterro, os meios irmãos trocam palavras azedas e começa aí um jogo de agressões e azedume entre os dois clãs.
Jeff Nichols fez um filme extraordinário pela sensibilidade com que conta a história. Somos embalados na suave rotina do trabalho e da vida naquele canto lento da América e, em crescendo, assistimos ao pulsar da raiva dentro daqueles homens, que explode de forma muito controlada no filme: Jeff Nichols mostra só o essencial e é eficiente nesse seu minimalismo.
Os actores impressionam: Son Hayes (grande Michael Shannon), tem um olhar magoado, a fala arrastada e anda curvado, como que embotado pelo calor. É um homem bom e resignado. Boy Hayes, corpulento, tímido e comodista, é encantador pelo golpe de asa que pressentimos nele. É outro homem bom e resignado.
Há aquele Shampoo, o rapaz enfaixado com ligaduras, não sabemos porquê, um pouco lerdo e de óculos de lentes grossas, que resulta numa personagem esteticamente inesquecível. As suas breves aparições são essenciais, porque são os seus comentários atirados de forma negligente que fazem avançar aquela história trágica de vingança, que acaba como tem de acabar: na paz dos campos de algodão.

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