segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Mon Chéri



“Chéri”, de Stephen Frears, que adapta o romance de Colette, parece aquele bombom. Um papel de embrulho a dar para o requintado, o som do fru-fru quando se desembrulha, depois o sabor doce a chocolate cortado por um travo forte a licor e, metida lá dentro, uma cereja enrugada.
O ambiente da Belle Époque é recriado com muito charme e requinte e o filme é narrado com humor. Há um toque de frivolidade e perversidade em tudo aquilo, que assenta bem ao rol de protagonistas, as profissionais do amor e seus frequentadores.
Léa, a caminho da meia-idade, envolve-se com Chéri, uns bons vinte anos mais jovem que ela, porque o menino se aborrece e porque lhe dá prazer. Esse é o momento doce da história, que começa a amargar, quando, passados seis anos de relacionamento, o rapaz tem de casar, convenientemente. A partir daqui, é ver o sofrimento de ambos que não podem viver um com o outro, nem um sem o outro e isso é um pouco atroz, como o licor daquele bombom. No final do filme, a cereja, enrugada mas ainda muito bela, fita-nos de um espelho com os olhos parados em estupefacção e lucidez. Mas este pequeno confeito do Frears não chegou para me adoçar a boca.

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