segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

José & Pilar, Pilar, Pilar...


O documentário de Miguel Gonçalves Mendes entra na casa e na vida do casal José Saramago e Pilar del Río. A câmara segue Saramago, que incuba e escreve a história do elefante quinhentista que suportou uma viagem de Lisboa a Viena, e segue a mulher, que gere, incansável, a agenda a estoirar pelas costuras do marido-nobel.
O filme flui de forma natural, sem grandes artifícios. Somos levados num torvelinho de viagens e de eventos onde invariavelmente Saramago é posto a uma secretária a assinar livros. Pasmamos perante aquele octogenário que alinhava em tantas viagens e que aturava, com um sorriso benévolo, tanta imbecilidade e falta de senso.
Mas Pilar explica, na sua voz acelerada de espanhola, cheia de vida, que parar é morrer. E era Pilar quem preenchia o ecrã e que lhe dava vida, era ela quem levava Saramago, quem não o deixava parar, nem morrer. Saramago parecia estar numa resignação feliz dentro daquele circo mediático. Impressiona o seu rosto de velho, com uma qualidade de réptil venerando (penso em tartarugas), que se enternece com a mulher que ama. Diz frases enxutas e eficazes que saem de um "caldo requentado" que se serve aos jornalistas, mas as mais belas serão sempre para Pilar.


"Encontramo-nos noutro sítio..."



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