sábado, 8 de janeiro de 2011

Sacrebleu!

Em 2009, a Cinemateca Portuguesa e o Programa Gulbenkian Ambiente organizaram um ciclo de cinema dedicado à temática ambiental. "Le monde du silence", documentário de 1956 de Jacques-Yves Cousteau e Louis Malle, merece um apontamento pela galhofa (em espanto) que proporcionou. O filme acompanha as incursões por mares e oceanos da embarcação Calypso, comandada pelo oceanógrafo francês de icónico barrete vermelho.
O título poético do documentário predispunha-nos para um mergulho beatífico nas profundezas do mar silencioso e não ficamos defraudados: o mergulho é hipnótico e azul. Mas sucedem-se alguns episódios bizarros, impensáveis, incríveis, que nos deixaram de boca aberta.
Veja-se a cena da morte de uma baleiazinha, acidentalmente trucidada pelo Calypso. Como se não bastasse, assim que viram tubarões a rondarem o petisco, a tripulação de garridos cuecões de mergulho acorre numa fúria assassina contra os pobres predadores, deixando o ecrã a escorrer sangue. Outra cena memorável é quando os exploradores, na ânsia de descobrirem novas espécies de peixes, largam dinamite num lago (uma prática bem portuguesa). Bum! e é vê-los a recolherem os peixes traumatizados e a enfiarem-nos em frascos com formol ou lá o que era. Há aquele momento arrepiante em que os mergulhadores martelam corais, furiosamente, e há uma cena em que chegam a ludibriar um volumoso mero que se afeiçoou a eles e que não os largava nem por nada...graças à legendagem, houve um bónus de riso, quando o mero surgia com o mimoso nome de "Jojó".

Jacques-Yves Cousteau e o seu barrete vermelho fazem parte da minha infância. Foi uma figura de relevo da oceanografia, ajudou a divulgar os oceanos e as suas maravilhas, mas, neste filme, Costeau e a sua tripulação mais parecem uma trupe de sádicos malfeitores.

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