segunda-feira, 18 de maio de 2009

"Being alive is so damn sweet"


"Watchmen", a BD dos anos 80 de Allan Moore/Dave Gibbons/John Higgins, agarrou-me desde os primeiros quadradinhos pela mestria com que dava a ver a história: como o pequeno pormenor dava lugar, num quadrado mais à frente, a uma cena ampla; como se passava, com suavidade, de uma cena do presente para um vislumbre do passado só de olhar para uma fotografia antiga; como a mesma cena era vista sob várias perspectivas e que gozo isto me dava.
É um livro negro, cheio de pancadaria e sangue, com heróis demasiado humanos e por isso ridículos nas suas fatiotas. Estão cheios de traumas, de dores, de pecados e insatisfações.
The Comedian, um peão na trama, que paira no livro como um fantasma; Doctor Manhattan, o freak de serviço, que reaprendeu a humanidade em Marte nesta tirada deslumbrante: "...but the world is so full of people, so crowded with these miracles that they become commonplace and we forget...I forget..."; The Nite Owl, o ornitólogo sensível; a frágil Laurie/The Silk Spectre; Rorschach, de cara e passado borrados, que força o bonacheirão Dr. Malcolm Long a fitar o abismo e a fazer-se mais humano e Adrian Veidt/Ozymandias, o Alexandre o Grande reencarnado que impede uma iminente guerra nuclear ao simular uma invasão extraterrestre. Sacrificou metade da população de Nova Iorque, mas conseguiu a paz no mundo...até que se descubra a fraude (estará o "New Frontiersman" à altura?)
"Watchmen" é uma BD dura, mas rica de recursos: o livro está polvilhado de textos/anexos que contam histórias paralelas e que alargam o mundo daquela história metida em quadradinhos, com pedaços de prosa, recortes de jornal, fait-divers, bandas desenhadas dentro de bandas desenhadas; depois há ecos de músicas (Bob Dylan, John Cale), tiradas de Einstein, William Blake ou Nietzsche, que aprofundam o drama.
Naquele mundo caótico, violento e no fio da navalha, que também é o nosso, havia sempre quem lembrasse como era bom estar vivo e poder abraçar alguém: "Oh, it's sweet. Being alive is so damn sweet."

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